EXCLUSIVO – As fraudes continuam sendo um dos maiores desafios do mercado segurador brasileiro e estão se tornando cada vez mais sofisticadas diante de novas soluções tecnológicas. Segundo dados da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), os sinistros ocorridos em 2024 somaram R$ 41 bilhões, dos quais R$ 5,4 bilhões foram classificados como suspeitos. Deste montante, R$ 1,1 bilhão foi confirmado como fraude, um aumento que elevou a razão entre fraudes comprovadas e sinistros de 2,2% para 2,7% em apenas um ano.

Por trás dos números, o que se vê é um cenário de transformação tecnológica que também abriu novas frentes de vulnerabilidade. “O avanço tecnológico, que tanto nos ajuda a otimizar processos e personalizar ofertas, também abriu novas portas para a sofisticação do lado criminoso”, afirma Michel Tanam, gerente da Minuto Seguros, corretora digital da Creditas. Para ele, a digitalização não é a vilã, mas exige camadas de segurança mais robustas e inteligência contínua para acompanhar a criatividade das quadrilhas.

O aumento das fraudes não está concentrado em um único ramo, mas é mais expressivo no segmento de automóveis, onde predominam golpes como simulação de roubos ou furtos, acidentes forjados, danos preexistentes omitidos e falsificação de documentos.

Nos seguros de vida, é comum a omissão de doenças e até simulação de óbitos, enquanto no residencial aparecem sinistros superestimados ou inexistentes. “É um problema transversal e grave”, explica Tanam. “Na Minuto Seguros, temos sistemas de detecção que cruzam dados em tempo real para identificar inconsistências. A análise de padrões e o uso de inteligência artificial permitem prever comportamentos suspeitos antes mesmo que se tornem fraude”.

Se há alguns anos o setor dependia quase exclusivamente da auditoria manual, hoje o uso de IA e machine learning virou rotina. As seguradoras e corretoras coletam e analisam milhões de dados de forma automatizada, detectando padrões atípicos e conexões suspeitas entre ocorrências aparentemente isoladas.

“A inteligência artificial é o coração da estratégia de prevenção”, diz o gerente. “Com ela, nós como empresa conseguimos processar e cruzar informações de diversas fontes para identificar riscos em tempo real. Os algoritmos aprendem continuamente e ajudam a bloquear transações fraudulentas antes que causem prejuízo”.

Segundo Tanam, o avanço tecnológico permitiu à Minuto Seguros por exemplo, integrar ferramentas de análise comportamental que observam como o usuário navega, o tipo de dispositivo, o IP e a geolocalização, sempre dentro dos parâmetros da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). “Nosso foco é garantir segurança sem violar a privacidade do cliente. Trabalhamos com dados consentidos e utilizamos apenas o necessário para identificar comportamentos fora do padrão”.

Com o crescimento da IA generativa, surge também uma nova geração de ameaças: deepfakes, documentos falsos hiper-realistas e identidades sintéticas. Esses recursos estão sendo explorados por fraudadores para enganar sistemas de verificação e criar perfis falsos praticamente indetectáveis.

“A IA generativa é um novo e perigoso vetor de risco. Mas também pode ser usada a nosso favor”, observa Tanam. Ele compartilha que a Minuto Seguros por exemplo, vem investindo em ferramentas de detecção de manipulação digital, biometria facial, verificação multifator e treinamento constante das equipes para identificar tentativas de falsificação. “É uma corrida tecnológica em que precisamos estar sempre um passo à frente, usando a própria IA como defesa”, resume.

O papel do consumidor na proteção digital

Mesmo com todos os avanços, a segurança ainda depende de um elo básico, que é o comportamento do consumidor. Golpes de phishing, sites falsos e ofertas fraudulentas continuam sendo portas de entrada para vazamento de dados e prejuízos.

O executivo orienta que o cliente sempre verifique se o endereço eletrônico da seguradora começa com “https://” e exibe o cadeado de segurança, desconfie de promoções muito abaixo do mercado e evite pagamentos por canais não oficiais. “A ausência de CNPJ, endereço físico ou selo da Susep é um sinal de alerta. O consumidor também precisa ser protagonista na sua própria proteção”, afirma.

A consolidação da LGPD, a atuação da Susep e a implementação gradual do Open Insurance estão moldando um ambiente mais seguro e transparente. Para Tanam, essas iniciativas impõem padrões que obrigam o setor a elevar o nível de governança e a clareza na relação com os clientes.

“A regulação brasileira é um pilar fundamental. A Susep combate o mercado irregular, a LGPD protege a privacidade e o Open Insurance padroniza o intercâmbio de dados. Tudo isso cria uma base de confiança essencial para o crescimento do mercado”, analisa.

À medida que as fraudes se tornam mais complexas, a resposta do setor precisa ser mais integrada. A cooperação entre seguradoras, corretoras, reguladores e autoridades públicas começa a se tornar um consenso. “Os fraudadores não agem isoladamente e nós também não podemos agir”, diz Tanam. “O compartilhamento de dados e inteligência, dentro dos limites legais, é o caminho para fortalecer a defesa do ecossistema como um todo.”

As tendências apontam para o avanço da biometria comportamental, que analisa microgestos e padrões de digitação e do blockchain, que pode garantir rastreabilidade e autenticidade de documentos. Modelos preditivos de machine learning já conseguem identificar fraudes complexas em milissegundos.

“O futuro da segurança será colaborativo e preditivo. Com tecnologia e integração, estaremos mais preparados para enfrentar a sofisticação dos criminosos e proteger o mercado como um todo”, conclui o executivo.

Nicholas Godoy, de São Paulo

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